domingo, 14 de dezembro de 2008

Entre Partir e Ficar



Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.
A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.

Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.
Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.

Pulsar do tempo que em minha têmpora
repete a mesma e insistente sílaba de sangue.
A luz faz do muro indiferente
um espectral teatro de reflexos.

No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.
Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa

Octavio Paz

Imagem: Kamila Zarembska

2 comentários:

Ester disse...

que belo cais..
e e de súbito a paz!

Folhetim disse...

Oi, Paulo,

Lindíssima poesia numa perfeita conjunção com a imagem.
A impressão que dá é que Otávio Paz inspirou-se nesse belo cenário para entre o seu permanecer e o seu partir, ser uma pausa.

Um beijo,
Inês