segunda-feira, 1 de junho de 2009

Paisagem



Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areias as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elásticas e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exaltação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Um comentário:

Sueli Maia (Mai) disse...

Oi, Paulo. Há tempos me falaram sobre esta escritora e poeta e agora, me conferes o privilégio de lê-la em teu espaço.
A imagem é belíssima e me possibilitou a percepção da órbita terrestre.

Natureza selvagem em um poema que me emocionou.
Vir aqui é sentir um toque delicado em meu coração.

Muito carinho.
Grata,
Mai